Quarta-feira , Abril 30 2025

O Ordo Amoris de Santo Tomás: O Caminho do Amor Ordenado na Vida Cristã

Se há algo que define o ser humano, é sua capacidade de amar. Mas não qualquer amor, e sim um amor que, quando se desordena, pode nos levar à confusão e à infelicidade. Santo Tomás de Aquino nos ensina que o amor não é apenas um sentimento, mas uma inclinação natural para o bem. No entanto, para que esse amor seja verdadeiramente fecundo e nos conduza à plenitude, deve estar bem ordenado. A esse princípio, o Doutor Angélico chamou de Ordo Amoris: a ordem do amor.

Mas o que realmente significa esse conceito? Como pode nos ajudar a viver uma vida mais plena e santa nos dias de hoje? Neste artigo, exploraremos a origem, a profundidade teológica e a aplicação prática do Ordo Amoris em nosso tempo.

1. O que é o Ordo Amoris?

O termo Ordo Amoris se traduz como “ordem do amor”. Para Santo Tomás, o amor não é simplesmente um impulso emocional, mas um ato da vontade que deve ser corretamente direcionado. Em outras palavras, não basta amar, mas é necessário amar o que é digno de ser amado na medida adequada.

Esse princípio se baseia no ensinamento bíblico de que o amor deve ter uma ordem correta:

“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mateus 22,37-39)

Deus deve ser amado acima de todas as coisas, pois Ele é o Bem supremo. Depois, o amor deve se estender ao próximo e a nós mesmos, mas sempre nessa ordem hierárquica. Quando o amor se desordena, a alma se desorienta, buscando felicidade em bens inferiores e acabando na insatisfação.

2. A Origem do Ordo Amoris na Filosofia e Teologia de Santo Tomás

Santo Tomás de Aquino não inventou o conceito de Ordo Amoris, mas o refinou e desenvolveu com base nos ensinamentos de Santo Agostinho, que escreveu:

“A ordem do amor consiste em amar as coisas na medida em que devem ser amadas.” (De Civitate Dei, XV, 22)

Santo Agostinho já percebia que a desordem no amor era a raiz de todos os pecados e sofrimentos humanos. Quando amamos demais os bens temporais e pouco a Deus, caímos na idolatria e no egoísmo.

Tomás de Aquino, influenciado por Aristóteles e pela tradição cristã, sistematizou essa ideia e a incorporou em sua visão da lei natural e da moral. Para ele, o Ordo Amoris é o reflexo da própria ordem do universo, onde cada coisa tem seu lugar e finalidade. A moral cristã, portanto, consiste em conformar nosso amor a essa ordem objetiva.

3. Como se Aplica o Ordo Amoris em Nossa Vida?

No cotidiano, o Ordo Amoris nos ajuda a tomar decisões justas e a evitar os extremos que nos desviam do verdadeiro bem. Vejamos alguns exemplos:

a) O Amor a Deus Acima de Todas as Coisas

Em uma sociedade que constantemente nos convida a colocar nossas esperanças no dinheiro, no poder ou no prazer, o Ordo Amoris nos lembra de que Deus deve ser o centro de nossa vida. Isso não significa desprezar as coisas materiais, mas usá-las de acordo com seu propósito e sem torná-las nosso fim último.

Exemplo: Um cristão que sacrifica sua fé pelo sucesso profissional desordena seu amor, pois coloca um bem inferior (o trabalho) acima do bem supremo (Deus).

b) O Amor ao Próximo e a Si Mesmo na Medida Certa

O amor ao próximo é essencial, mas deve estar bem ordenado. Amar não significa sempre agradar aos outros nem permitir abusos. Também não significa egoísmo ou negligenciar o bem comum por interesses pessoais.

Exemplo: Um pai que se dedica ao trabalho para dar uma vida melhor à sua família, mas sem negligenciar o tempo com ela, pratica o Ordo Amoris. Por outro lado, se ele se obsessa com o dinheiro e deixa de atender às necessidades espirituais de seu lar, está amando desordenadamente.

c) O Uso Correto dos Bens Materiais

Os bens materiais são bons em si mesmos, mas quando se tornam o centro de nossa vida, caímos na avareza ou na idolatria. O Ordo Amoris nos ensina a usá-los com moderação e generosidade.

Exemplo: Um empresário que usa sua riqueza para ajudar os mais necessitados demonstra um amor ordenado. Já alguém que acumula sem pensar nos outros desviou seu amor para bens inferiores.

4. O que Acontece Quando o Amor se Desordena?

A desordem do amor é a raiz de muitos males no mundo. Quando se ama mais o prazer do que a virtude, mais o dinheiro do que a dignidade humana, ou mais a própria opinião do que a verdade, surgem conflitos, injustiças e divisões.

Santo Tomás explica que os pecados capitais são, no fundo, manifestações de um amor desordenado:

  • Soberba: amar a si mesmo acima de Deus.
  • Avareza: amar o dinheiro mais do que se deve.
  • Luxúria: amar o prazer sexual sem a ordem do amor conjugal.
  • Ira: amar a própria justiça mais do que a paciência e a misericórdia.

Quando o amor está ordenado, a vida encontra harmonia. É como uma sinfonia onde cada instrumento toca sua parte no momento certo.

5. Um Chamado à Conversão: Restaurar o Ordo Amoris

Em tempos de crise de valores e confusão moral, o Ordo Amoris é uma bússola segura para voltar a Deus e à verdadeira felicidade. Como restaurar essa ordem em nossa vida?

  • Oração e sacramentos: Só Deus pode reordenar nosso coração. A Eucaristia e a confissão são essenciais.
  • Exame de consciência: Refletir diariamente se estamos amando na ordem correta.
  • Formação espiritual: Ler a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja.
  • Obras de caridade: Amar em ação, ajudando os outros sem cair no ativismo vazio.

São João da Cruz dizia:

“Ao entardecer de nossa vida, seremos julgados no amor.”

Mas não em qualquer amor, e sim em um amor bem ordenado. Que o Senhor nos conceda a graça de amar na ordem que Ele estabeleceu, para que possamos viver em paz nesta vida e gozar da felicidade eterna.

Que este artigo não seja apenas uma reflexão, mas um ponto de partida para reordenar nossas prioridades e viver conforme o plano de Deus. Pois só quando o amor está ordenado, a vida faz sentido.

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Pater noster, qui es in cælis: sanc­ti­ficétur nomen tuum; advéniat regnum tuum; fiat volúntas tua, sicut in cælo, et in terra. Panem nostrum cotidiánum da nobis hódie; et dimítte nobis débita nostra, sicut et nos dimíttimus debitóribus nostris; et ne nos indúcas in ten­ta­tiónem; sed líbera nos a malo. Amen.

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