Segunda-feira , Abril 21 2025

“Sim, Renuncio!” – Redescobrindo as Promessas do Batismo na Vigília Pascal

Introdução: O fogo novo que renova a vida

Na noite mais santa do ano — a Vigília Pascal — ecoam em todas as igrejas do mundo palavras poderosas que muitas vezes pronunciamos sem compreender toda a sua profundidade: “Sim, renuncio!”
Não se trata de uma fórmula vazia, nem de uma tradição automática da liturgia. É um grito espiritual, uma profissão de fidelidade, uma escolha radical que renova a nossa identidade cristã.
Este artigo convida você a redescobrir o profundo significado dessas palavras — sua história, sua importância teológica e, principalmente, como elas podem se tornar um estilo de vida cotidiano.


1. Origem histórica: De onde vem a renovação do Batismo?

O Batismo na Igreja primitiva

Nos primeiros séculos, o Batismo era visto como um novo nascimento, a verdadeira entrada na vida em Cristo. Os catecúmenos passavam por um longo período de preparação (o catecumenato), para depois receber o sacramento na noite da Páscoa, o centro do ano litúrgico.
À luz do Círio Pascal, celebrava-se uma liturgia de morte e ressurreição: morria-se para o pecado e nascia-se para Cristo.

Um dos momentos centrais do rito era justamente a renúncia a Satanás e às suas obras. Antes do Batismo, os candidatos se voltavam para o ocidente – símbolo das trevas – e diziam: “Renuncio a ti, Satanás”. Depois se voltavam para o oriente – símbolo de Cristo, luz do mundo – e professavam a fé na Santíssima Trindade.

A renovação litúrgica do século XX

Com a reforma litúrgica após o Concílio Vaticano II, a Igreja redescobriu a dimensão comunitária e espiritual da Vigília Pascal, incluindo a renovação das promessas batismais para todos os fiéis.
Todos os anos, todos os cristãos são convidados a retornar às suas origens, a dizer novamente “sim” a Cristo e a renunciar conscientemente ao pecado.


2. Significado teológico: Por que essa renovação é tão importante?

Uma aliança que precisa ser mantida viva

O Batismo não é apenas um rito de iniciação. É uma aliança sagrada, que nos une a Cristo, nos incorpora ao seu Corpo — a Igreja — e faz de nós templo do Espírito Santo.
Mas como toda aliança, precisa de fidelidade, consciência e renovação constante. A renovação das promessas batismais na Vigília Pascal não é uma recordação nostálgica: é um novo começo espiritual, uma reativação da graça batismal e uma decisão consciente de viver como cristãos.

A luta espiritual é real

São Paulo nos recorda:

“Fomos, pois, sepultados com ele na morte por meio do Batismo, para que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos pela glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova.” (Romanos 6,4)

Essa vida nova exige conversão contínua e uma clara renúncia ao pecado. As três perguntas — “Renuncias a Satanás?”, “Renuncias a todas as suas obras?”, “Renuncias a todas as suas seduções?” — são uma profissão de fé corajosa, uma declaração de que estamos em combate, que não queremos mais seguir o mal.


3. Aplicações práticas: Viver como batizados – viver como ressuscitados

Como traduzir tudo isso para a vida de todos os dias? Aqui está um guia espiritual e pastoral para viver diariamente as promessas do Batismo:

A. “Renuncias a Satanás?” – Recusar conscientemente o mal

  • Reserve alguns minutos diários para o exame de consciência. Pergunte-se: hoje abri espaço para o egoísmo, a mentira, o rancor?
  • Esteja atento às pequenas brechas por onde o mal entra: julgamentos, pensamentos impuros, inveja, indiferença espiritual…
  • Use os sacramentais (água benta, medalhas, sinal da cruz) como memória viva do seu Batismo.

B. “E a todas as suas obras?” – Combater as estruturas do pecado

  • Viva o Evangelho em suas escolhas diárias: no trabalho, nos relacionamentos, no consumo. O Batismo nos chama a um estilo de vida do Reino.
  • Oponha-se às lógicas do mundo: corrupção, mentira, egoísmo. Seja honesto, justo, transparente.

C. “E a todas as suas seduções?” – Discernir em um mundo confuso

  • Nem tudo que é moderno ou atraente é bom. O cristão muitas vezes é chamado a nadar contra a corrente.
  • Cultive o silêncio interior, a oração cotidiana, para discernir a vontade de Deus e permanecer livre.

4. Depois da Vigília: Manter a chama acesa

A graça do Batismo não é uma faísca passageira, mas um fogo que precisa ser alimentado. Veja como mantê-lo aceso:

1. Renovação diária

Comece o dia com o sinal da cruz e água benta. Diga de coração:
“Senhor, hoje renovo minha aliança Contigo. Renuncio ao mal e escolho novamente a Ti.”

2. Confissão regular

O Batismo nos tornou filhos de Deus; a Confissão nos regenera quando caímos. Use esse sacramento com frequência para não sufocar a graça.

3. Acompanhamento espiritual

Busque um diretor espiritual ou confessor constante. A vida batismal não cresce sozinha, mas em comunhão e acompanhamento.

4. Vida eucarística

A Eucaristia é o alimento do batizado. A Missa dominical é a continuação do seu “sim” batismal. O mesmo Cristo que te regenerou no Batismo, te alimenta com seu Corpo.


5. Um chamado para hoje: Ser luz nas trevas

Num mundo que relativiza o mal e perdeu o sentido do pecado, nosso “Sim, renuncio” é um sinal profético.
Escolher Cristo hoje significa dizer “não” a muitas coisas que nos afastam Dele: ideologias, desordens, indiferença, tibieza.

Os batizados são chamados a ser luz, testemunhas da esperança, sinais vivos de que é possível uma vida nova em Cristo.


Conclusão: Batizados para vencer – enviados para amar

A Vigília Pascal não é apenas um rito: é uma passagem. Cristo ressuscitou – e nos dá a sua vitória. Ao dizer “Sim, renuncio”, você afirma:
Minha história mudou. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. (Gálatas 2,20)

Viva, então, como aquilo que você é: filho de Deus, portador da luz, testemunha do Ressuscitado.
E que cada Páscoa seja uma verdadeira renovação da sua alma, do seu compromisso e do seu amor por Cristo, que venceu a morte por você.

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Pater noster, qui es in cælis: sanc­ti­ficétur nomen tuum; advéniat regnum tuum; fiat volúntas tua, sicut in cælo, et in terra. Panem nostrum cotidiánum da nobis hódie; et dimítte nobis débita nostra, sicut et nos dimíttimus debitóribus nostris; et ne nos indúcas in ten­ta­tiónem; sed líbera nos a malo. Amen.

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