Segunda-feira , Junho 9 2025

Santo! O Grito do Universo que Ecoa na sua Missa: Unindo-se ao Coro Celestial

Descubra o poder, a história e o céu que pulsa neste canto litúrgico crucial

Alguma vez, no meio da Missa, logo após o sacerdote dizer “Por Cristo, com Ele e n’Ele…”, você sentiu aquele arrepio quando toda a assembleia irrompe num canto poderoso: “Santo, Santo, Santo…”? Não é um mero interlúdio musical. É uma ponte lançada entre a terra e o céu, um eco da eternidade ressoando em nosso presente. Hoje, querido irmão, querida irmã, aprofundemos este momento sublime: o Canto do Santo (Sanctus).

Não Cantamos Sós: O Cenário Cósmico
Imagine a cena descrita pelo profeta Isaías, uma das visões mais impressionantes da Bíblia:

“No ano da morte do rei Ozias, eu vi o Senhor sentado num trono alto e elevado; as franjas de seu manto enchiam o templo. Serafins estavam acima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés e com duas voavam. E clamavam uns aos outros: ‘Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos! Toda a terra está cheia de sua glória!'” (Isaías 6,1-3).

Esta é a origem. Os serafins (anjos de fogo purificador) proclamam sem cessar a santidade absoluta de Deus. São João, no Apocalipse, mostra-nos que este louvor é perpétuo no céu:

“Os quatro Seres Vivos […] não cessam de dizer dia e noite: ‘Santo, santo, santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, Aquele que era, que é e que há de vir!'” (Apocalipse 4,8).

O Que Fazemos Quando Cantamos o “Santo”?
Unimo-nos a eles! Naquele instante preciso da Missa, na Oração Eucarística, a liturgia permite-nos fazer algo admirável: romper as barreiras do tempo e do espaço para unir nossas vozes ao coro incessante dos anjos e santos que adoram a Deus em seu trono celestial. Não somos espectadores. Somos participantes ativos na liturgia do céu. A terra e o céu fundem-se numa só voz de louvor. O “Santo” é o grito da Criação redimida reconhecendo seu Criador e Redentor.

Desvendando o Texto: Palavra por Palavra, Grito por Grito
O texto que cantamos ou recitamos é uma síntese poderosa dessas visões bíblicas:

Santo, Santo, Santo é o Senhor,
Deus do universo!
Os céus e a terra proclamam a vossa glória.
Hosana nas alturas!
Bendito o que vem em nome do Senhor!
Hosana nas alturas!

  • “Santo, Santo, Santo” (Sanctus, Sanctus, Sanctus): A tripla repetição é fundamental na tradição judaico-cristã. Não é apenas ênfase. É uma profunda alusão à Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). Proclama a santidade absoluta, única, transcendente e inefável de Deus. É um grito de assombro diante do Divino.
  • “Senhor, Deus do universo” (Dominus Deus Sabaoth): “Sabaoth” significa “exércitos” ou “hostes”. Não é um Deus da guerra, mas o Senhor de todos os exércitos celestes (anjos) e de tudo o que existe. É o Deus soberano, Criador e Sustentador de tudo. Reconhecemos seu domínio total.
  • “Os céus e a terra proclamam a vossa glória” (Pleni sunt caeli et terra gloria tua): A glória de Deus (sua presença poderosa, seu esplendor, sua santidade manifesta) não está confinada ao céu. Impregna toda a criação. A terra, aqui e agora, também é lugar de sua manifestação. Este verso abre nossos olhos para ver o sagrado no cotidiano.
  • “Hosana nas alturas!” (Hosanna in excelsis): “Hosana!” é um clamor hebraico que significa “Salvai-nos, por favor!” ou “Salvai-nos agora!”, mas evoluiu até tornar-se um grito de júbilo e aclamação, como o usado pela multidão no Domingo de Ramos ao receber Jesus (Mateus 21,9). Ao gritar “Hosana nas alturas!”, unimos nossa alegria à dos anjos e daquela multidão, aclamando o Salvador aqui e agora.
  • “Bendito o que vem em nome do Senhor” (Benedictus qui venit in nomine Domini): Este é o clímax profético e cristológico. Tirado diretamente do Salmo 118(117),26, usado para receber peregrinos e reis, a Igreja aplica-o com plena força a Jesus Cristo. Quem é “o que vem”? É Jesus! E vem de modo único e real em cada Missa: na Eucaristia. É a aclamação jubilosa de Cristo que se faz presente no altar sob as espécies do pão e do vinho. É a proclamação de que o Messias esperado veio e continua vindo a nós.
  • Repetição de “Hosana nas alturas!”: O júbilo irrompe novamente, reforçando a aclamação a Cristo que vem. É um grito de vitória e esperança.

Guia Prático-Pastoral: Como Viver o “Santo” em Plenitude
Este canto não é para “ouvir”. É para SER VIVIDO. Ofereço-lhe este guia para transformar cada “Santo” numa experiência espiritual profunda:

  1. Prepare o Momento (Durante o Prefácio): O Prefácio é uma ação de graças que culmina convidando-nos a unir-nos aos coros celestes. Escute-o ativamente! Deixe que suas palavras o disponham ao assombro. A última frase do Prefácio (“… cantamos sem cessar o hino da vossa glória”) é o seu sinal: agora é a hora!
  2. Levante-se com Intenção: A postura ereta não é mera formalidade. É símbolo de ressurreição, respeito e prontidão para a ação. Levante-se conscientemente, como quem se prepara para um encontro transcendente.
  3. Eleve o Coração e a Voz (Cante!): Se puder, CANTE. O canto exprime a alegria da alma de modo único. Se não puder cantar, PROCLAME-O com força e convicção interior. Não murmure. Anuncie. Que seja um grito unânime de fé da comunidade. Sua voz individual funde-se à voz da Igreja.
  4. Visualize a União Celeste: Feche os olhos por um instante ao começar (se o ajudar). Lembre-se de Isaías, lembre-se do Apocalipse. Imagine, com os olhos da fé, os anjos e santos ao seu lado, cantando com você. Sinta que esse canto atravessa o teto da igreja e chega ao trono de Deus. Você não está sozinho; faz parte de uma multidão incontável.
  5. Medite cada Palavra ao Dizê-la/Cantá-la: Não repita mecanicamente. Ao dizer “Santo, Santo, Santo”, pense na Trindade. Ao dizer “Deus do universo”, reconheça seu poder sobre sua vida e o mundo. Ao proclamar “Os céus e a terra proclamam…”, abra os olhos de sua alma para ver sua glória ao redor. Ao gritar “Hosana!”, suplique e alegre-se pela salvação que vem em Cristo. Ao aclamar “Bendito o que vem…”, olhe para o altar com fé: É Ele! Jesus vem até você!
  6. Foque em Cristo que Vem: O “Bendito o que vem” é o centro. Todo o louvor trinitário e angélico converge para Cristo Eucarístico. Dirija seu coração com intensidade para Ele neste momento. É a preparação imediata para o momento mais sagrado: a Consagração.
  7. Deixe que Ressoe em seu Interior: Após o “Amém” final, guarde um breve instante de silêncio interior. Deixe que a vibração do louvor e a presença de Cristo, aclamado por você e pelo céu, impregne o seu ser. Não passe mentalmente ao que vem a seguir imediatamente.

O “Santo” na sua Vida Cotidiana: Para Além da Missa
A experiência do “Santo” não deve ficar confinada aos domingos. É um modelo para sua vida espiritual:

  • Reconhecer a Santidade de Deus: Pratique o assombro diante da criação, da bondade, da própria vida como reflexo de sua glória. Diga frequentemente: “Santo sois Vós, Senhor!”
  • Unir-se à Comunhão dos Santos: Viva consciente de que sua oração, sua luta, sua alegria, estão unidas às da Igreja militante (na terra), padecente (no purgatório) e triunfante (no céu). Você não está só em sua caminhada de fé.
  • Aclamar a Cristo que Vem: Espere a Cristo não só na Eucaristia, mas em cada irmão, nos acontecimentos diários (gozosos e dolorosos), e em sua vinda gloriosa no fim dos tempos. Viva com a atitude do “Maranatha! Vem, Senhor Jesus!” (Apocalipse 22,20).
  • Proclamar com a Vida: Que toda a sua vida seja um “Hosana” contínuo, um testemunho jubiloso da salvação que recebeu e da esperança que o sustenta. Seja um reflexo da glória que enche o céu e a terra.

Conclusão: O Eco da Eternidade no seu Hoje
No próximo domingo, quando ouvir as primeiras notas ou palavras do “Santo”, lembre-se: Você não está começando um canto, está entrando num que nunca cessou. Está unindo sua voz frágil mas cheia de fé ao torrente poderoso de louvor que brota do coração dos serafins, dos santos, da Igreja de todos os tempos. Está reconhecendo o Deus Três Vezes Santo, cuja glória inunda o cosmos. E está aclamando, com um júbilo que abala os alicerces do cotidiano, Aquele que vem: Jesus Cristo, o Salvador, presente no altar, presente no seu irmão, presente na sua vida.

Deixe que esse “Santo!” não seja apenas uma palavra num livro, mas o grito de sua alma sedenta de Deus. Deixe que esse “Hosana!” seja seu grito de esperança no meio das batalhas diárias. E sobretudo, quando disser “Bendito o que vem em nome do Senhor!”, faça-o com os olhos do coração bem abertos para reconhecê-Lo e acolhê-Lo. Porque nesse instante, irmão, irmã, o céu toca a terra, e você está no meio, unido ao coro eterno.

Santo, Santo, Santo é o Senhor, Deus do universo! Hosana nas alturas!

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Pater noster, qui es in cælis: sanc­ti­ficétur nomen tuum; advéniat regnum tuum; fiat volúntas tua, sicut in cælo, et in terra. Panem nostrum cotidiánum da nobis hódie; et dimítte nobis débita nostra, sicut et nos dimíttimus debitóribus nostris; et ne nos indúcas in ten­ta­tiónem; sed líbera nos a malo. Amen.

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