“Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos.” (João 20,22-23)
Introdução: A Confissão, um Dom Divino em Crise
No mundo moderno, onde o relativismo moral e a secularização avançam rapidamente, o sacramento da Penitência (ou Confissão) atravessa uma crise silenciosa. Muitos católicos, embora crentes, evitam este encontro misericordioso com Deus devido a três inimigos espirituais: o medo, a vergonha e a preguiça.
Estes obstáculos não são novos. Desde os tempos dos Padres da Igreja, o demônio tem tentado afastar as almas do perdão sacramental. Mas hoje, numa sociedade que promove a autossuficiência e a rejeição da culpa, estes inimigos fortificaram-se.
Neste artigo, aprofundaremos cada um deles, exploraremos as suas raízes teológicas, o seu impacto na vida espiritual e, sobretudo, como vencê-los com a graça de Deus.
1. O Medo: “O que pensará o sacerdote?”
A raiz do medo
O medo de confessar-se manifesta-se de várias formas:
- Temor do julgamento do sacerdote
- Medo de não ser perdoado
- Ansiedade por esquecer alguns pecados
Este medo não vem de Deus, pois Ele é “rico em misericórdia” (Efésios 2,4). Pelo contrário, é uma armadilha do inimigo para manter a alma afastada da graça.
A resposta da fé
Jesus instituiu a Confissão não como um tribunal de condenação, mas como uma clínica espiritual. O sacerdote age in persona Christi, ou seja, na pessoa de Cristo, que não veio “para condenar o mundo, mas para o salvar” (João 3,17).
Como vencer o medo:
- Recordar a promessa de Jesus: Ele já conhece os nossos pecados e contudo chama-nos ao arrependimento.
- Confiar no sigilo sacramental: O sacerdote está obrigado, sob pena de excomunhão, ao segredo absoluto.
- Começar com simplicidade: Se a ansiedade for grande, pode dizer-se: “Padre, tenho medo de me confessar, ajude-me.”
2. A Vergonha: “Não tenho coragem de dizer os meus pecados”
A armadilha da vergonha
A vergonha é talvez o obstáculo mais comum. Desde a queda de Adão e Eva, a humanidade experimenta este sentimento após o pecado (Génesis 3,10).
Mas há uma diferença crucial: Adão escondeu-se de Deus, enquanto o filho pródigo correu para o Pai (Lucas 15,20). A vergonha pode ser salutar se levar ao arrependimento, mas prejudicial se paralisar.
A humildade que liberta
Santa Teresa de Ávila dizia: “A humildade é a verdade.” Reconhecer os nossos pecados não nos torna pequenos diante de Deus, mas autênticos. O demónio quer fazer-nos crer que os nossos pecados são “demasiado graves”, mas a misericórdia de Deus é maior.
Como superar a vergonha:
- Ver o sacerdote como médico: Não nos envergonhamos de descrever sintomas a um médico; igualmente, o confessor está lá para curar, não para julgar.
- Meditar na Cruz: Se Cristo morreu pelos nossos pecados, como poderia recusar perdoá-los quando os confessamos?
- Usar um guia de confissão: Ajuda a organizar os pensamentos e evitar bloqueios.
3. A Preguiça: “Confessar-me-ei… mais tarde”
O perigo da procrastinação espiritual
A preguiça espiritual (ou acédia) é um vício capital que nos leva a adiar o bem. Muitos dizem: “Não matei ninguém, não preciso de me confessar frequentemente.” Mas o Catecismo lembra-nos que “todo o pecado, mesmo venial, deve ser combatido” (CIC 1863).
São João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars, dizia: “O pecado é o punhal com que o homem fere Deus.” Se deixarmos os pecados acumularem-se, o coração endurece.
A urgência da conversão
Deus chama-nos “agora”, não amanhã. “Eis agora o tempo favorável, eis agora o dia da salvação.” (2 Coríntios 6,2).
Como combater a preguiça:
- Estabelecer um ritmo regular: Por exemplo, ir uma vez por mês.
- Recordar a morte: “Memento mori” (lembra-te que morrerás). Não sabemos quando será a nossa última oportunidade.
- Pedir ajuda a um amigo espiritual: Alguém que nos encoraje a confessar-nos.
Conclusão: A Confissão, um Encontro de Amor
O sacramento da Confissão não é uma formalidade, mas um abraço do Pai. Vencer o medo, a vergonha e a preguiça exige fé e determinação, mas a recompensa é imensa: a paz da alma e a amizade renovada com Deus.
Como dizia São Josemaría Escrivá: “Quem se confessa bem enche-se de alegria.” Não deixemos que estes três inimigos nos roubem a graça. Corramos ao confessionário! A misericórdia espera-nos.
“Feliz aquele a quem foi perdoada a culpa e absolvido o pecado!” (Salmo 32,1)
Perguntas para reflexão
- Qual destes três inimigos (medo, vergonha, preguiça) me afeta mais?
- Quando foi a última vez que me confessei com sinceridade e alegria?
- Que passos concretos posso dar para me confessar com mais frequência?
Que a Santíssima Virgem Maria, Refúgio dos pecadores, nos alcance a graça de amar este sacramento e a ele nos aproximarmos com confiança. Avante, sem medo!